De um modo primitivo, por hexagrama, podemos
compreender como a reunião de seis letras ou caracteres; já que a palavra tem
origem no grego e significa seis linhas ou seis caracteres (hex =
seis; gramma = linha). Portanto, uma seqüência de seis sinais
gráficos (letras ou figuras geométricas, por exemplo) pode ser considerada um
hexagrama. Assim, na filosofia oriental denominada I Ching, o hexagrama
possui uma representação linear.
Porém, dentro da maioria das escolas esotéricas
ocidentais, o hexagrama usualmente assume a forma de uma estrela de seis pontas
e é conhecido também por Estrela de Davi, Selo de Salomão, entre
outros. É esta versão que carrega inúmeros significados ao longo da história e
figura tanto como símbolo maior do Estado de Israel como na simbologia
ocultista. Mesmo havendo distinções interpretativas entre o hexagrama com as
linhas entre-laçadas e o hexagrama com os triângulos sobrepostos, as definições
confundem-se e ampliam ainda mais as hipóteses das origens, significados e
aplicações.
Origens
A maioria das teorias que pretende encontrar a origem
específica do hexagrama está relacionada ao judaísmo. Uma delas, sem embasamento
histórico confiável, faz alusão ao nome do Rei Davi. Segundo a tradição judaica,
o nome Davi era escrito com apenas três letras no alfabeto hebraico: dalet,
vav e dalet. A primeira e última letra (dalet), possui uma forma
semelhante ao triângulo. Se uma delas for invertida verticalmente e sobreposta à
outra, forma-se o hexagrama. Mais uma hipótese é de que o hexagrama seja uma
versão estilizada do lírio branco, flor de seis pétalas que é identificada como
o povo de Israel no livro bíblico Cântico dos
Cânticos.
Outra origem refere-se ao escudo do Rei Davi, que
possuía forma triangular e nele estava gravado o Grande Nome Divino de 72
Letras, juntamente com as letras hebraicas m, k, b e y (letras da
palavra Macabi). Entretanto, neste caso, não há uma linha nítida que
associe o símbolo ao Escudo de Davi (Marguen Davi), sendo que a
expressão Marguen Davi passou a ser utilizada referindo-se ao hexagrama, apenas
a partir do século XIV. Ainda, pode-se supor que o símbolo tenha surgido na
época de Bar Kochba (132-135 d.C.) quando os judeus combatiam os romanos,
passaram a utilizar escudos mais resistentes, nos quais foram gravados dois
triângulos entre-laçados.
O
símbolo na história
Entretanto, desde a Idade do Bronze, símbolos em forma
de estrela, como o pentagrama e o hexagrama, já eram encontrados em civilizações
distantes, tanto no aspecto geográfico como cultural, como na Índia, Mesopotâmia
e Grã-Bretanha.
O mais antigo artefato judaico contendo um hexagrama
de que há registro, é um selo encontrado na cidade de Sidon (Líbano), datado do
século VII antes de Cristo. Mesmo que no período do Segundo Templo, os símbolos
judaicos mais comuns eram oshofar, o lulav e
a menorá, foram encontrados pentagramas e hexagramas em trabalhos
arqueo-lógicos, como no friso da sinagoga de Cafarnaum (século II ou III d.C.) e
uma lápide (ano 300 d.C.), no sul da Itália. Na literatura judaica, uma
referência encontra-se no livro Eshkol Hakofer, do sábio Yehudah ben
Eliahu Hadasi, que viveu no século XII. No capítulo 242, é citado costumes do
povo que, gradativamente, foram sofrendo mutações e o símbolo assume um caráter
místico: "e os sete anjos na Mezuzá foram escritos - Miguel e Gabriel [...]
o Eterno irá guardar-te e este símbolo chamado Escudo de Davi é escrito em todos
os anjos e no final da Mezuzá...".
A bíblia cristã, possivelmente, faz referência ao
hexagrama através de uma metáfora citando animais de seis asas: "...os
quatro animais tinham, cada um de per si, seis asas, e ao redor, e por dentro,
estavam cheios de olhos; e não descansam nem de dia nem de
noite..." (Apocalipse - 4:8).
A utilização ornamental de estrelas, de cinco ou de
seis pontas, estendeu-se durante a Idade Média aos povos muçulmanos e cristãos e
o hexagrama é encontrado em ambas as religiões. Iluminuras de manuscritos
hebraicos medievais também contêm hexagramas. Ainda na era medieval,
encontram-se os primeiros amuletos de proteção em que surge o hexagrama, como
noMezuzot (pergaminho-amuleto do judaísmo).
A partir do século XIII, na Espanha e na Alemanha,
encontra-se manuscritos bíblicos nos quais partes da messorá (tradição oral
judaica) são escritas em micrografia, em forma de hexagrama. Até o século XVI,
os sábios cabalistas acreditavam que o símbolo não deveria ser desenhado com
simples linhas geométricas; mas sim composto com determinados nomes sagrados e
suas combinações.
Em 1354, o rei da Bohemia, Carlos IV (Karel), concedeu
à comunidade judia de Praga, o privilégio de uma bandeira, que foi confeccionada
num fundo vermelho e o hexagrama, centralizado, em dourado. Dessa forma, o
símbolo, conhecido também como Marguen Davi (Escudo de Davi),
adquiriu uma conotação religiosa e tornou-se também uma referência do
estado.
A partir do século XVII, o hexagrama tornou-se emblema
oficial de várias comunidades judaicas. Em meados do século XVII, em Viena, foi
gravado sobre uma pedra que delimitava os bairros judeus e cristãos, juntamente
com uma cruz. Quando os judeus foram expulsos desta cidade, levaram o símbolo
para as outras cidades, como a Moravia e Amsterdã. No ano de 1799, foi utilizado
para representar o povo judeu em uma gravura anti-semita. No decorrer dos
séculos XIII e XIX, algumas instituições, como as sociedades beneficentes,
usavam o símbolo em seus documentos. Em 1933, sob a decisão de Adolf Hitler,
a Estrela Judaica (como os nazistas, pejorativamente, referiam-se ao
símbolo) foi utilizada nas vestimentas dos judeus para que fossem facilmente
reconhecidos. Apenas em 1948, o hexagrama foi adotado pela bandeira do estado de
Israel e tornou-se a maior referência do judaísmo.
O
místico hexagrama
Além de ser um símbolo que representa uma nação, ter
sido considerado um "símbolo de desonra" no Terceiro Reich, e utilizado por
instituições independentes ao longo da história, o hexagrama também traz um
forte apelo ocultista.
Segundo a obra de Albert G. Mackey sobre
a maçonaria, The Symbolism of Freemasonry os dois triângulos
entrelaçados representam a união das forças ativa e passiva na natureza, os
pólos feminino e masculino, yoni e linga (representações dos
genitais no hinduísmo). Sendo o triângulo voltado para baixo o símbolo do
princípio feminino e o triângulo voltado para cima representando o princípio
masculino. Portanto, nesta interpretação, o hexagrama possui um simbolismo
sexual. O hexagrama também foi adotado na Maçonaria do Arco Real e,
neste caso, segundo o autor maçom Wes Cook, o símbolo representa equilíbrio e
harmonia.
Há também uma interpretação na qual o triângulo
voltado para baixo representa o céu e o segundo triângulo simboliza a terra; de
forma que um interfira no outro. Supõe-se também que as seis pontas
representariam o domínio celeste sobre os quatro ventos, sobre o que está em
cima e sobre o que está em baixo na terra.
Na Cabala judaica, o hexagrama faz alusão às sete
emanações divinas (sefirot) inferiores. Cada um dos triângulos que
formam os lados da estrela representam uma emanação e o centro dos triângulos
maiores sobrepostos, representam a emanação denominada Malchut. O filósofo Franz
Rosenzweig atribui um outro significado. Rosenzweig afirmou que um dos
triângulos seria a representação da base de "focos", que caracterizam o
pensamento do mundo (Deus), o homem e o mundo. O outro representaria a posição
do judaísmo nestes assuntos, referindo-se aos três fundamentos principais da
religião: a Criação (a relação entre Deus e o mundo), a revelação (relação entre
Deus e o homem) e a redenção (a relação entre o homem e o
mundo).
Numa outra interpretação, provavelmente de
base alquímica, os triângulos componentes representam a água e o fogo, e a
junção destes elementos, normalmente associados à figuras de animais. Há ainda
suposições menos plausíveis associando o hexagrama à ritos "satânicos", ou como
um poderoso instrumento para evocações e conjurações malignas em círculos de
magia negra; ou associá-lo à pegada de um suposto demônio conhecido
por Trud. Ainda, pode-se encontrar o número 666 ao se consi-derar as
duas faces de cada um dos seis triângulos externos, no sentido horário e
anti-horário (6 e 6), e as seis linhas que compõem o hexágono interno (666). De
qualquer forma, dentro dos círculos ocultistas, o hexagrama geralmente é visto
com alguma palavra ou símbolo gravado em seu centro para ser aplicado numa
situação específica, como potencializar um ritual ou evocar alguma
divindade.
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