Covid-19: governo impede Médicos sem Fronteiras de atender indígenas no MS

O
 governo brasileiro não autorizou a organização Médicos sem Fronteiras a
 prestar atendimento em sete comunidades indígenas no Mato Grosso do 
Sul. Os Terenas pediram ajuda à ONG francesa em julho para combater o 
avanço do coronavírus nas aldeias.
Em
 um comunicado, a Médicos sem Fronteiras afirmou ter apresentado um 
projeto de ação nas sete comunidades sul-matogrossenses. A Secretaria 
Especial de Saúde Indígena (Sesai), no entanto, negou a autorização ao 
grupo, dizendo que o plano apresentado pelos médicos não trazia 
precisões sobre os locais de atendimento, datas e meios a serem 
empregados.
O
 órgão dedicado à saúde indígena afirmou ainda ter aceitado a ajuda de 
um grupo de trabalho da entidade francesa, com um médico, três 
enfermeiros e um psicólogo, na aldeia Aldeinha, no município de 
Anastácio (MS). De acordo com o comunicado da Sesai, seria ali a maior 
taxa de incidência de casos de covid-19.
A Médicos sem Fronteiras,
 contudo, diz que a comunidade aceita, a menos de 5 km de um grande 
município e com apenas 500 pessoas, não fazia parte da primeira proposta
 do grupo.
A
 ONG afirma já ter apresentado uma nova proposta de atendimento em ações
 coordenadas com o distrito de saúde local para 11 comunidades indígenas
 e cerca de 6.000 pessoas. O objetivo será detectar casos suspeitos de 
covid-19 e prevenir o contágio.
Covid entre indígenas
A 
pandemia do coronavírus tem atingido duramente as comunidades indígenas 
brasileiras. De acordo com a contagem feita pela Apib (Articulação dos 
Povos Indígenas do Brasil), já são 26.615 casos de indígenas 
contaminados pelo coronavírus e 70 mortos até esta sexta-feira (21).
Para
 a Apib, a proibição da entrada do grupo da Médico sem Fronteiras nas 
comunidades Terena do Mato Grosso do Sul "pode agravar os casos de 
contaminação na região".
O grupo indígena fez o pedido de 
autorização para entrada dos médicos voluntários no dia 24 de julho, 
quando seis indígenas do povo Terena haviam morrido pela covid-19. No 
dia 19 de agosto, quando saiu a resposta do órgão do Ministério da 
Saúde, a comunidade já contava 41 mortos pela doença, além de 1.239 
contaminados, segundo levantamento feito pelo Conselho Terena e pela 
Apib.
70% das terras indígenas estão fora do plano federal
Desde
 o início da pandemia, o governo brasileiro tem sido acusado pelos 
grupos indígenas de não tomar medidas para proteger essa população mais 
vulnerável em questão de imunidade. Em julho, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chegou a vetar partes de uma lei que previa medidas de emergência para o cuidado das comunidades indígenas.
A decisão foi alterada mais tarde pelo STF
 (Supremo Tribunal Federal), que obrigou o governo a criar barreiras 
sanitárias e um plano de enfrentamento para a doença aos indígenas.
No
 entanto, o plano de instalação de barreiras sanitárias para proteger as
 aldeias feito pelo governo federal deixou de fora 70 % das terras 
indígenas, de acordo com um documento de grupo de trabalho do Ministério
 da Mulher, Família e Direitos Humanos publicado nesta semana pelo 
jornal O Globo.
De acordo com o relatório, os indígenas instalaram
 metade das 274 barreiras sanitárias por conta própria, sem participação
 do órgão federal responsável pela proteção dessas comunidades, a Funai.

    
    
    
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