quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Na Cama não se fala em filosofia




Na Cama não se fala em filosofia
“Na cama não se fala em filosofia. Peguei na mão dela, coloquei sobre meu coração, disse, meu coração é seu, depois pus sua mão sobre minha cabeça e disse, meus pensamentos são seus, moléculas do meu corpo estão impregnadas com moléculas do seu. Depois botei a mão dela no meu pau, que estava duro, disse, é seu esse pau. Ela nada disse, me chupou, depois chupei sua boceta, ela veio por cima, fodemos, ela ficou de joelhos, rosto no travesseiro, penetrei por trás, fodemos. Fiquei deitado e ela de costas para mim sentou-se sobre o meu púbis, enfiou meu pau sobre sua boceta. Eu via meu pau entrando e saindo, via o cu rosado dela, que depois lambi. Fodemos, fodemos, fodemos. Gozei como um animal agonizado. Ela disse, te amo, vamos viver juntos. Perguntei, não está bom assim ? Cada um no seu canto, nos encontramos para ir no cinema, passear no Jardim Botânico, comer salada com salmão, ler poesia um para o outro, ver filmes, foder. Acordar todo dia, todo dia, todo dia juntos na mesma cama é mortal. Ela respondeu que Nietzsche disse que a mesma palavra amor significa duas coisas diferentes para o homem e para a mulher. Para a mulher, amor exprime renúncia, dádiva. Já o homem que possuir a mulher, tomá-la, a fim de se enriquecer e reforçar seu poder para existir. Respondi que Nietzsche era um maluco. Mas aquela conversa foi o início do fim. Na cama não se fala em filosofia”. 
(RUBEM FONSECA)

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