Terceira Guerra Mundial? Entenda a escalada da tensão entre EUA e Irã
Angelo Sfair
O ano de 2020 começou com um pacote de incertezas no cenário político internacional. O presidente dos EUA, Donald Trump, ordenou uma ofensiva em Bagdá, no Iraque, que terminou com a morte de um dos generais mais poderosos do Irã, Qasem Soleimani.
O ataque dos EUA no Oriente Médio gera consequências ainda impossíveis
de se mensurar. Um dos temores relacionados à escalada da tensão entre
os dois países é o início de uma guerra, ou até uma terceira guerra mundial. Os problemas ocasionados pelo ataque dos EUA ao Irã também passam pela incerteza sobre o preço do barril do petróleo e do dólar.
O impacto pode ser imediato, inclusive no Brasil. O presidente Jair
Bolsonaro acionou a Petrobras e discutirá com o ministro da Economia,
Paulo Guedes, um possível aumento no preço do combustível.
Quais as consequências imediatas do ataque dos EUA ao Irã? Por que Donald Trump ordenou um ataque em Bagdá? Como a escalada da tensão no Oriente Médio afeta o Brasil? Há risco de uma eventual terceira guerra mundial? O petróleo e o dólar vão subir? Para responder essas perguntas, o Paraná Portal ouviu cientistas políticos especializados em relações internacionais e um ex-embaixador brasileiro em Washington.
O ponto de partida dos problemas mais recentes entre EUA e o pais oriental é o programa nuclear iraniano.
O projeto é visto como uma ameaça à paz mundial, devido à possibilidade
do desenvolvimento de armas nucleares. As rusgas tornaram-se evidentes
ainda durante o mandato de Barack Obama.
“Obama conseguiu durante o segundo mandato, costurar um plano nuclear envolvendo Reino Unido, França e Alemanha, além dos EUA e do Irã. O objetivo era não isolar o país asiático economicamente e manter o controle para que o enriquecimento de urânio não tivesse como fim a construção de bombas nucelares”, pontuou o professor de relações internacionais Sidney Leite, em entrevista ao Paraná Portal.
Conforme o historiador e cientista político, Obama deixou “um legado positivo”, que era justamente a reintegração do Irã, ao invés do isolamento político e econômico. No entanto, ainda durante a corrida eleitoral, Donald Trump já anunciava que não achava o plano bom. E que pretendia retirar os EUA do programa nuclear.
“O agravamento se dá no momento em que o republicano, de fato, rompe o acordo“, completa o professor.
O efeito imediato do ataque dos EUA ao Irã é econômico e afeta os preços do petróleo e do dólar. Mas a possibilidade de uma terceira guerra mundial ganhou repercussão após a ofensiva de Donald Trump. A morte do general Qasem Soleimani foi vista como uma grave afronta pelos povos iranianos. A escalada da tensão entre os dois países e a proximidade do Irã com outros grandes players globais, como Rússia e China, fizeram crescer o temor sobre um possível conflito de escala mundial.
Especialistas em Relações Internacionais avaliam que a possibilidade é remota. No entanto, esclarecem que ainda é cedo para medir as consequências do ataque ordenado por Donald Trump.
“Não acredito nessa possibilidade (3ª Guerra Mundial) até porque uma guerra mundial nos moldes das duas primeiras seria impossível, levando em consideração que atualmente temos armamentos mais poderosos, como as próprias armas nucleares”, ponderou Sidney Leite.
“Para ganhar uma dimensão maior, seria necessário que outras potências comprassem a briga. Não acredito que Rússia e China, por exemplo, estejam dispostas a ‘puxar a corda’ para o lado iraniano”, completou.
O historiador e cientista político aponta que os dois principais aliados do Irã — Rússia e China — terão papel fundamental na manutenção da paz. De acordo com Sidney Leite, é “extremamente necessário” que esses países atuem de forma equilibrada. O professor ainda lembrou que, na história recente, a China tem sido uma eficiente mediadora de tensões diplomáticas.
“A Rússia tende a se posicionar claramente nesse conflito, mas a China é cautelosa. Pequim pode até entrar na jogada, mas não declaradamente”, afirmou Pedro Costa Júnior, em entrevista ao Paraná Portal.
Para o professor, só se fala em terceira guerra mundial devido à importante geoestratégica do Irã. A nação liderada por Ali Khamenei é uma grande produtora de petróleo, domina o enriquecimento de urânio e está próxima de outras potências mundiais. Conforme Pedro Costa Júnior, o Irã é o único país do Oriente Médio capaz de mobilizar outras nações poderosas. “O grande problema é que o Irã é um player muito importante. É um cenário remoto, mas não descartável”, resumiu.
No entanto, o cientista político também lembrou que Donald Trump tem evitado conflitos com a Rússia. Por isso, é preciso estar atento à forma como o presidente Vladimir Putin reagir ao ataque dos EUA.
“Trump respeita muito Putin. Assim, há uma relação bilateral respeitosa. Sempre que a Rússia se manifestou, Trump recuou”, afirmou.
O Brasil ainda não se manifestou sobre a escalada da tensão entre EUA e Irã. E a decisão, conforme especialistas ouvidos pela reportagem, é o certo a se fazer no momento.
“Acho que o brasil não precisa assumir protagonismo. Estamos longe disso. Por isso, não é do nosso alcance e não deveríamos interferir. É um assunto que não nos compete, e que não temos meios para atuar”, observou o ex-embaixador Rubens Barbosa, em entrevista ao Paraná Portal.
Representante do Brasil em Washington, entre 1999 e 2004, o consultor não aposta em guerra e reforça que o País deve apenas ficar atento à consequências indiretas atreladas ao preço do petróleo.
“Temos que defender os interesses. Acho que o Brasil poderia manifestar preocupação com a escalada da tensão, mas apenas isso”, concluiu.
“O Brasil não tem nada a ganhar ao entrar em um problema desses. O que o país deve fazer é cuidar dos seus próprios problemas e olhar para a América do Sul. Temos questões ligadas ao meio ambiente e à Venezuela, por exemplo, que merecem a nossa atenção”, pontou.
No entanto, ele lembra que o Brasil tem um alinhamento mais estreito com os Estados Unidos. Conforme o professor, é uma posição mais declarada. E que partiu do próprio presidente Jair Bolsonaro.
“Em um primeiro momento, quando se trata de um conflito sem interesses diretos, não deveria interferir tanto. Mas, como o Brasil escolheu aderir ao Trumpismo, e considerando que política externa de Bolsonaro é ambígua e instável, é preciso aguardar”, concluiu.
EUA X IRÃ: RELAÇÕES ESTREMECIDAS NA ERA TRUMP
A relação política entre EUA e Irã decaiu desde o início do mandato de Donald Trump. O ataque em Bagdá e a morte do general Qasem Soleimani marcam o capítulo mais recente e o mais agressivo de uma história que já mostrava sinais de colapso. Hierarquicamente, o militar só estava abaixo do líder superemo do Irã. O chefe do país asiático, Ali Khamenei, clamou vingança pela morte do aliado.“Obama conseguiu durante o segundo mandato, costurar um plano nuclear envolvendo Reino Unido, França e Alemanha, além dos EUA e do Irã. O objetivo era não isolar o país asiático economicamente e manter o controle para que o enriquecimento de urânio não tivesse como fim a construção de bombas nucelares”, pontuou o professor de relações internacionais Sidney Leite, em entrevista ao Paraná Portal.
Conforme o historiador e cientista político, Obama deixou “um legado positivo”, que era justamente a reintegração do Irã, ao invés do isolamento político e econômico. No entanto, ainda durante a corrida eleitoral, Donald Trump já anunciava que não achava o plano bom. E que pretendia retirar os EUA do programa nuclear.
“O agravamento se dá no momento em que o republicano, de fato, rompe o acordo“, completa o professor.
TERCEIRA GUERRA MUNDIAL?
O efeito imediato do ataque dos EUA ao Irã é econômico e afeta os preços do petróleo e do dólar. Mas a possibilidade de uma terceira guerra mundial ganhou repercussão após a ofensiva de Donald Trump. A morte do general Qasem Soleimani foi vista como uma grave afronta pelos povos iranianos. A escalada da tensão entre os dois países e a proximidade do Irã com outros grandes players globais, como Rússia e China, fizeram crescer o temor sobre um possível conflito de escala mundial.
Especialistas em Relações Internacionais avaliam que a possibilidade é remota. No entanto, esclarecem que ainda é cedo para medir as consequências do ataque ordenado por Donald Trump.
“Não acredito nessa possibilidade (3ª Guerra Mundial) até porque uma guerra mundial nos moldes das duas primeiras seria impossível, levando em consideração que atualmente temos armamentos mais poderosos, como as próprias armas nucleares”, ponderou Sidney Leite.
“Para ganhar uma dimensão maior, seria necessário que outras potências comprassem a briga. Não acredito que Rússia e China, por exemplo, estejam dispostas a ‘puxar a corda’ para o lado iraniano”, completou.
O historiador e cientista político aponta que os dois principais aliados do Irã — Rússia e China — terão papel fundamental na manutenção da paz. De acordo com Sidney Leite, é “extremamente necessário” que esses países atuem de forma equilibrada. O professor ainda lembrou que, na história recente, a China tem sido uma eficiente mediadora de tensões diplomáticas.
GUERRA MUNDIAL: “CENÁRIO REMOTO, MAS NÃO DESCARTÁVEL”
O cientista político Pedro Costa Júnior acredita que os principais aliados do Irã devem reagir de forma diferente ao conflito. Conforme o professor de Relações Internacionais, o alvo dos EUA é um país muito geoestratégico. Além disso, interesses em comum fizeram estreitar o eixo Teerã – Moscou – Pequim nos últimos anos.“A Rússia tende a se posicionar claramente nesse conflito, mas a China é cautelosa. Pequim pode até entrar na jogada, mas não declaradamente”, afirmou Pedro Costa Júnior, em entrevista ao Paraná Portal.
Para o professor, só se fala em terceira guerra mundial devido à importante geoestratégica do Irã. A nação liderada por Ali Khamenei é uma grande produtora de petróleo, domina o enriquecimento de urânio e está próxima de outras potências mundiais. Conforme Pedro Costa Júnior, o Irã é o único país do Oriente Médio capaz de mobilizar outras nações poderosas. “O grande problema é que o Irã é um player muito importante. É um cenário remoto, mas não descartável”, resumiu.
No entanto, o cientista político também lembrou que Donald Trump tem evitado conflitos com a Rússia. Por isso, é preciso estar atento à forma como o presidente Vladimir Putin reagir ao ataque dos EUA.
“Trump respeita muito Putin. Assim, há uma relação bilateral respeitosa. Sempre que a Rússia se manifestou, Trump recuou”, afirmou.
BRASIL NÃO PRECISA ASSUMIR PROTAGONISMO, DIZ EMBAIXADOR
Após a morte do general Qasem Soleimani, poucos países se manifestaram de forma incisiva. Independentemente de guerra, ou de uma remota possibilidade de terceira guerra mundial, os impactos do ataque dos EUA ao Irã são imediatos. A começar, pela instabilidade do preço do barril do petróleo e do dólar, que afeta tanto o Ocidente quanto o Oriente.O Brasil ainda não se manifestou sobre a escalada da tensão entre EUA e Irã. E a decisão, conforme especialistas ouvidos pela reportagem, é o certo a se fazer no momento.
“Acho que o brasil não precisa assumir protagonismo. Estamos longe disso. Por isso, não é do nosso alcance e não deveríamos interferir. É um assunto que não nos compete, e que não temos meios para atuar”, observou o ex-embaixador Rubens Barbosa, em entrevista ao Paraná Portal.
Representante do Brasil em Washington, entre 1999 e 2004, o consultor não aposta em guerra e reforça que o País deve apenas ficar atento à consequências indiretas atreladas ao preço do petróleo.
“Temos que defender os interesses. Acho que o Brasil poderia manifestar preocupação com a escalada da tensão, mas apenas isso”, concluiu.
CAUTELA COM O TRUMPISMO
A análise do embaixador é ratificada pelo cientista político e professor em relações internacionais Pedro Costa Júnior. Para o especialista, os efeitos imediatos se restringem ao controle das consequências indiretas motivadas pelo preço do petróleo.“O Brasil não tem nada a ganhar ao entrar em um problema desses. O que o país deve fazer é cuidar dos seus próprios problemas e olhar para a América do Sul. Temos questões ligadas ao meio ambiente e à Venezuela, por exemplo, que merecem a nossa atenção”, pontou.
No entanto, ele lembra que o Brasil tem um alinhamento mais estreito com os Estados Unidos. Conforme o professor, é uma posição mais declarada. E que partiu do próprio presidente Jair Bolsonaro.
“Em um primeiro momento, quando se trata de um conflito sem interesses diretos, não deveria interferir tanto. Mas, como o Brasil escolheu aderir ao Trumpismo, e considerando que política externa de Bolsonaro é ambígua e instável, é preciso aguardar”, concluiu.
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