- Essa semana escrevi um texto propondo refletirmos sobre o fato de muitas pessoas não se permitirem realizar alguns dos seus desejos. A continuidade dessa reflexão, sob outro prisma, tem foco no medo de realizar algo devido ao olhar dos outros sobre nós. Medo de sermos vistos, julgados, rejeitados, criticados e até mesmo medo do sucesso, de atingirmos objetivos, de nos percebermos concretizando algo, de modo que isso tudo culmine em outro medo muito poderoso enquanto obstáculo: o de ver a si mesmo através do olhar alheio. De fato, existimos em um contexto primordialmente social e nossa forma de nos vermos é, sim, atravessada pelos olhares alheios. Não há algo exclusivamente negativo nisso, como muitos cogitam. Necessitamos do olhar das pessoas como ponto de partida para construirmos nossa identidade, seja pela confirmação ou negação do que pensam sobre nós ou sobre as questões da vida em si. É natural sentirmos necessidade de aceitação social e isso é entendido por algumas teorias como um “universal humano”, ou seja, algo que todo ser humano vivencia, em quaisquer culturas. No entanto, qual a “medida” do outro em nós? Nos diferenciarmos das demais pessoas, por mais que as amemos, também é uma das grandes “tarefas” do nosso processo de desenvolvimento humano. Essa diferenciação não significa que “trairemos” os nossos afetos e vínculos mais significativos. É possível cogitarmos a ideia de que: “Podemos seguir de mãos dadas, com amor, aceitando nossas diferenças no modo existimos e nos expressamos”. Para isso, importa desvincular os “nãos” da ideia de ser aceito ou amado. Vivemos em um universo cultural em que é comum pensar: “se alguém não gosta do que faço é porque não gosta de mim”. No entanto, isso pode significar apenas que a pessoa, apesar de ter afeto, não tem afinidade ou admiração pelo que fazemos, afinal de contas, preferência é algo muito pessoal. Vincular qualquer tipo de “não” aos afetos tem um potencial de prejudicar bastante nossa auto estima e nossos relacionamentos. Para concluir, cabe dizer que não tenho nenhuma intenção de fornecer uma “receita” de como se lidar com o próprio medo de realização em um, dois, três ou mil passos. Cada pessoa, se assim desejar, pode empreender um mergulho no grande oceano que é sua história de vida, para então descobrir seus tons de azul de tempos em tempos, além do que suas correntezas e ondas revelam. E, para isso, importa muito refletirmos sobre todas as nossas relações, já que “sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que o desejo dos outros fizeram de mim” (Álvaro de Campos - heterônimo de Fernando Pessoa).
sábado, 8 de fevereiro de 2020
Medo de Realizar
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