O Brasil já é oficialmente um Narco-Estado
Afirmamos
há mais de um ano que o Brasil estava em vias de se tornar um autêntico
Narco-Estado − tal como são, hoje, México e Colômbia. Nos baseamos em
tendências evidentes, como a ascensão de figuras políticas e jurídicas
suspeitas de ligações próximas com o PCC, milícias e outros bandos
criminosos, e estabelecemos uma previsão para o futuro. Em
nosso entendimento, porém, essa transformação levaria ainda por volta
de 3-5 anos para se concretizar. Tratava-se de uma expectativa futura,
praticamente garantida, mas que ainda estava em processo de
concretização e que, portanto, ainda poderíamos esgrimir caso fizéssemos
uma aplicação cirúrgica da violência, da limpeza política, bem como de
políticas públicas na dose certa.
A
situação política e social brasileira, no entanto, degenerou em ritmo
acelerado no último ano. Tivemos a ascensão de um advogado do PCC ao
STF; o fortalecimento de facções criminosas ligadas também ao PCC em
vários estados do país; mais escândalos envolvendo aviões e helicópteros
carregados de drogas em fazendas de políticos; o enfraquecimento
proposital das fronteiras por parte do governo e revelações feitas por
grandes traficantes sobre o grau de influência que eles possuem nas
esferas municipal, estadual e federal.
A
atual intervenção federal que ocorre no Rio de Janeiro (a contragosto
dos militares, diga-se) vem sem necessidade, e munida de objetivos
meramente politiqueiros. Há inclusive o risco de que ela acabe por
piorar a situação no estado e nos estados circundantes. São Paulo foi
pacificada não pela ação policial ou governamental, mas pela hegemonia
criminal do PCC.
A “guerra às drogas” faliu não porque é impossível vencê-la, desde uma perspectiva logística e operacional, mas porque Governo, o Grande Empresariado e o Tráfico se tornaram indistinguíveis.
A “Guerra às drogas”, portanto, seria uma guerra de um ramo da mesma
força contra outro ramo da mesma força. Obviamente, nenhum dos ramos
quer isso e, portanto, a “guerra às drogas” é uma farsa, um ilusionismo.
Os dois lados se mordiscam esporadicamente, mas os centros de poder
permanecem incólumes e o dano colateral é todo absorvido pelos cidadãos,
que morrem cada vez mais: favelados, policiais, transeuntes, qualquer
um.
Mao
esmagou o todo poderoso, influente e bilionário esquema de tráfico de
ópio na China em questão de pouquíssimos anos. Com as capacidades
técnicas e de inteligência de que dispomos hoje, poderíamos fazer isso
em questão de meses. Mas nossos governantes querem?
Nesse
sentido é que devemos compreender a execução da vereadora do PSOL. Nas
últimas eleições, 14 candidatos foram executados na região da Baixada
Fluminense do Rio. Vários outros foram executados no resto do país. A
execução da vereadora do PSOL, portanto, não surpreende, apesar de ser
indubitavelmente trágica. Ela vem
confirmar a análise de que o Brasil já se tornou, para todos os efeitos,
um Narco-Estado: estamos já nos estágios iniciais pelos quais México e
Colômbia passaram décadas atrás. Nesses países, é arriscado criticar o
governo, os carteis, as milícias e as grandes empresas. E era
basicamente isso que a vereadora em questão vinha fazendo: denunciando a
máfia dos ônibus, a violência miliciana, a corrupção governamental em
uma atuação que, apesar de seu partido, deve ser elogiada.
Tenha
sido a milícia, o tráfico ou alguma outra força, a execução certamente
foi encomendada porque a vereadora incomodou forças poderosas que estão
por trás dos bastidores do Rio de Janeiro. É isso, inclusive, que todo o
discurso tosco da liderança do PSOL sobre “mulher negra feminista… isso
e aquilo”, “defensora das minorias… isso e aquilo” ajuda a nublar,
reduzindo o significado de sua morte.
O
X da questão é que começa a ficar claro que qualquer líder político
nacional que queira limpar o Brasil, ou terá de agir cuidadosamente e
lentamente, atuando nas brechas e pelas beiras, ou então terá que, de
uma só vez, suspender os direitos políticos e civis e usar de toda a
violência estatal, simultaneamente, contra o Congresso, o Grande
Empresariado, o Latifúndio, o Tráfico e a Milícia, sem deixar pedra
sobre pedra. Do contrário, corre o risco de ser assassinado em pouco
tempo.
E
para finalizar: este caso, em que duas vidas foram ceifadas de forma
bárbara, traz novamente a necessidade de possibilitar ao cidadão o porte
de armamento civil. O tráfico já está armado, o latifundiário e seus
capangas já estão armados, a polícia está armada, a milícia está armada,
o empresário já tem segurança armado. E o povo? Só ele permanecerá desarmado?
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