Bissexuais, elas gostam de dominar mulheres e ser submissas aos homens
"Como
escolher? Sou uma só e os desejos, dois", escreveu Safo, célebre
poetisa grega que viveu na ilha de Lesbos por volta de 600 a.C. Seria
este um indício da bissexualidade (controversa) de Safo ou apenas
inspiração e arte? Provavelmente nunca saberemos, já que muito de sua
obra se perdeu e sua história se confunde com a de outras mulheres que
viveram na mesma época. O "dilema" continua atual, mais de dois milênios
depois. Como escolher entre dois desejos? Quando o assunto é
sexualidade, há quem, ao invés de eleger um ou outro, opte por ambos.
Bissexuais, três mulheres abrem o jogo e revelam o que preferem fazer com os homens e o que adoram com as mulheres – na cama.
"Com meninas até tentei ser passiva, mas não tinha tanto prazer quanto sendo ativa"
"Eu
percebi que era bi bem cedo, aos 16. Sabia que gostava dos homens, mas
também das mulheres, e isso sempre foi muito confuso. Na adolescência,
quando soube por um amigo o que era ser bissexual, me vi completa. Tive
as minhas primeiras experiências sexuais com meninas, pra depois ter com
meninos. Com meninas até tentei ser passiva, mas não tinha tanto prazer
quanto sendo ativa. Com meninos, gosto que eles conduzam tudo, que
dominem a situação", entrega a modelista Jaqueline Barros, 28, de São
Paulo.
"No sexo com mulher eu tomo a iniciativa; com homem, gosto de ser dominada"
"Descobri
há três anos que sou bi. Tive um sonho erótico com uma amiga, que é
lésbica assumida, e depois disso fiquei com vontade de ficar com ela,
então tomei a iniciativa. Ela é mais passiva e ficamos juntas por oito
meses. Depois dela tive outras, e com as mais ativas eu não tinha muito
tesão. Saí provando todo tipo de mulher e saquei que gosto de mulher que
fica de quatro na cama, que apanha, leva puxão de cabelo e pede mais.
Não que eu não faça a passiva com mulher, gosto também, mas o que me faz
ferver é realmente ser mais ativa. Com homem, o que me faz ferver é ser
jogada na cama, virada até de cabeça pra baixo e concluir a história
com anal. Passei um tempo tentando me entender, mas aí desisti e resolvi
viver", conta Bruna Carlos, 28, biomédica, que diz preferir mulheres
"bem femininas", que usem brincos grandes e salto alto, e homens
másculos, peludos e de barba. "No sexo com mulher eu tomo a iniciativa,
vou pra cima, gosto de dominar. Me satisfaço em ver gozar. Xingo, dou
uns tapas… Com homem eu gosto de ser dominada", arremata.
"Para excitar outra, uma mulher precisa muito mais do que mostrar os seios ou usar uma roupa curta"
"Eu
sempre fui muito tranquila em relação à minha sexualidade, entendi cedo
que gostava tanto de mulher, quanto de homem. Já me questionei se eu
não ficava com homens pela facilidade de convivência aos olhos da
sociedade, mas com o tempo eu me encontrei e hoje sou muito bem
resolvida. Eu gosto muito de dar prazer à mulher e vê-la sentindo
prazer. Isso me excita muito. Acredito que na relação sexual entre duas
mulheres rola uma entrega maior e mais cumplicidade. Acho que por isso
eu amo ser mais ativa com mulher – mas gosto de ser surpreendida. Para
excitar outra, uma mulher precisa muito mais do que mostrar os seios ou
usar uma roupa curta, o que nos leva a ousar na criatividade, na
performance… Já com o homem, parece que tudo acontece mais rápido.
Muitas vezes o nosso orgasmo acontece com o nosso próprio toque, junto à
penetração ou até mesmo depois que ele já teve o orgasmo. Não estou
generalizando, até porque já tive boas experiências com homens. Acredito
que a gente ainda precisa de muito para uma total desconstrução…
Vivemos em uma sociedade machista, acho que isso se revela em
determinados aspectos", reflete Ligia Alves, 29, de São Paulo.
A vida e a morte de Safo
Exaltada e execrada, a poetisa foi retratada de várias formas ao longo do tempo. É
por Safo e pela escola de artes para mulheres fundada por ela em Lesbos
(e por toda sorte de boatos que cercavam o lugar, especialmente no
tocante às relações dela com suas discípulas), que a palavra "lésbica"
passou a ser usada para designar mulheres homossexuais. Alguns
historiadores afirmam que Safo teria sido casada e tido uma
filha. Alegam ainda que a mestra teria ficado viúva, se apaixonado por
um rapaz e cometido suicídio em um penhasco. Há pesquisadores que
acreditam que ela teria sido amante de várias de suas alunas até que, na
velhice, teria voltado a se relacionar com homens. Lendas e realidade
se emaranham na história da poetisa que, diferentemente de seus
contemporâneos que glorificavam deuses e heróis, escrevia sobre amor e
paixão com muitas doses de erotismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário