O horror dos horrores
As atrocidades diárias que acontecem na Síria desde 2011 tiveram ontem mais um terrível capítulo: um suposto ataque com gases letais e centenas de mortos – ativistas falam em 1,3 mil vítimas
Ativistas de oposição divulgaram imagens de mortos e acusam o regime de lançar armas químicas em Damasco Foto: AFP / SHAAM NEWS NETWORK
Léo Gerchmann
Corpos intactos, aparentemente sem ferimentos, enfileirados às dezenas, crianças e adultos lado a lado, pálidos, com os olhos arregalados, de quem expressava o espanto de ter sido vítima de ataque à traição, e as bocas abertas, mostrando a possível dificuldade para seus últimos suspiros. Essas são as imagens terrificantes que levaram o mundo ontem a prestar atenção na Síria, onde a guerra se arrasta tanto, pelo tempo e pela banalização da violência, que quase já estava esquecida.
Tão fortes são as fotos e os vídeos, especialmente as que mostram corpos de crianças perfilados, algumas de fralda, que tenderiam a fazer a comunidade internacional romper o atual imobilismo. Ou deveriam, segundo vozes críticas à inépcia internacional.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas, instado por Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Luxemburgo e Coreia do Sul, reuniu-se e pediu investigação imediata sobre o episódio, ocorrido na madrugada de ontem.
Entrevista:>>> "A evidência disponível na internet é convincente", diz consultor em desarmamento químico sobre o massacre na Síria
Mais uma vez, como tem feito ao longo dos últimos dois anos nos frequentes episódios de massacres – nenhum aparentemente com esta proporção em um único dia –, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, expressou estar "chocado" com as denúncias de que ontem foram usadas armas químicas pelas forças de segurança contra civis na região de Damasco. De acordo com a oposição, o governo sírio matou 1,3 mil pessoas ontem, em bombardeios com suposto gás letal. As vítimas se somam aos "mais de 100 mil", marca atingida ainda em junho. Os números imprecisos são rotina e acusam o veto do regime do ditador Bashar al-Assad ao trabalho de aferição de organizações internacionais e da imprensa.
Os EUA exigiram que seja facilitado o trabalho da equipe de especialistas em armas químicas da ONU que chegaram ao país no domingo após muita insistência com o governo. O presidente da Comissão de Inquérito da ONU sobre a Síria, o diplomata brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, disse a Zero Hora que será lançado um relatório oficial no dia 4 de setembro.
Pinheiro sustenta que a Síria "está em queda livre", e os civis não têm recebido proteção "eficaz", sendo vítimas de "consequências devastadoras" e "imenso sofrimento", em meio a uma "cultura da impunidade". Enfim, um quadro de desamparo absoluto, de acordo com Pinheiro, para "18 milhões de pessoas que continuam no país, ajudando-se umas às outras".
– É hora de a comunidade internacional agir de forma decisiva. Não há escolhas fáceis. Adiar essa escolha, contudo, é tolerar a continuação desta guerra e das suas muitas violações – disse ele, chamando de "irresponsáveis" os países que fornecem armas aos dois lados em conflito. A crise, que se iniciou com a repressão às manifestações pacíficas da Primavera Árabe, transformou-se em guerra civil, com uma diversidade de grupos rebeldes armados, aos quais se somaram fundamentalistas. Pinheiro teme que o impasse leve a mais sofrimento de civis e à exportação da violência para outros países e define o fim da guerra como "obrigação".
O governo sírio negava ontem ter usado armas químicas, mas vídeos sem confirmação mostram médicos tentando ressuscitar crianças, mulheres e homens adultos.
O líder opositor George Sabra, em entrevista coletiva, resumiu o impasse:
– O que nos mata e mata nossas crianças não é apenas o regime. A indecisão americana nos mata. O silêncio de nossos amigos nos mata. O abandono da comunidade internacional nos mata, a indiferença dos árabes e muçulmanos, a hipocrisia do mundo que se acredita livre nos mata.
Tão fortes são as fotos e os vídeos, especialmente as que mostram corpos de crianças perfilados, algumas de fralda, que tenderiam a fazer a comunidade internacional romper o atual imobilismo. Ou deveriam, segundo vozes críticas à inépcia internacional.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas, instado por Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Luxemburgo e Coreia do Sul, reuniu-se e pediu investigação imediata sobre o episódio, ocorrido na madrugada de ontem.
Entrevista:>>> "A evidência disponível na internet é convincente", diz consultor em desarmamento químico sobre o massacre na Síria
Mais uma vez, como tem feito ao longo dos últimos dois anos nos frequentes episódios de massacres – nenhum aparentemente com esta proporção em um único dia –, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, expressou estar "chocado" com as denúncias de que ontem foram usadas armas químicas pelas forças de segurança contra civis na região de Damasco. De acordo com a oposição, o governo sírio matou 1,3 mil pessoas ontem, em bombardeios com suposto gás letal. As vítimas se somam aos "mais de 100 mil", marca atingida ainda em junho. Os números imprecisos são rotina e acusam o veto do regime do ditador Bashar al-Assad ao trabalho de aferição de organizações internacionais e da imprensa.
Os EUA exigiram que seja facilitado o trabalho da equipe de especialistas em armas químicas da ONU que chegaram ao país no domingo após muita insistência com o governo. O presidente da Comissão de Inquérito da ONU sobre a Síria, o diplomata brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, disse a Zero Hora que será lançado um relatório oficial no dia 4 de setembro.
Pinheiro sustenta que a Síria "está em queda livre", e os civis não têm recebido proteção "eficaz", sendo vítimas de "consequências devastadoras" e "imenso sofrimento", em meio a uma "cultura da impunidade". Enfim, um quadro de desamparo absoluto, de acordo com Pinheiro, para "18 milhões de pessoas que continuam no país, ajudando-se umas às outras".
– É hora de a comunidade internacional agir de forma decisiva. Não há escolhas fáceis. Adiar essa escolha, contudo, é tolerar a continuação desta guerra e das suas muitas violações – disse ele, chamando de "irresponsáveis" os países que fornecem armas aos dois lados em conflito. A crise, que se iniciou com a repressão às manifestações pacíficas da Primavera Árabe, transformou-se em guerra civil, com uma diversidade de grupos rebeldes armados, aos quais se somaram fundamentalistas. Pinheiro teme que o impasse leve a mais sofrimento de civis e à exportação da violência para outros países e define o fim da guerra como "obrigação".
O governo sírio negava ontem ter usado armas químicas, mas vídeos sem confirmação mostram médicos tentando ressuscitar crianças, mulheres e homens adultos.
O líder opositor George Sabra, em entrevista coletiva, resumiu o impasse:
– O que nos mata e mata nossas crianças não é apenas o regime. A indecisão americana nos mata. O silêncio de nossos amigos nos mata. O abandono da comunidade internacional nos mata, a indiferença dos árabes e muçulmanos, a hipocrisia do mundo que se acredita livre nos mata.
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